Dia 41 da quarentena


Dia 41 da quarentena. O Eduardo me mandou mensagem pedindo desculpas por ter sumido pela milionésima nongentésima quinquagésima terceira vez.

Eu falei que não tinha ressentimentos. Ele insistiu em se explicar.

Começamos a conversar, como sempre fazíamos quando ele terminava um namoro e vinha atrás de mim. Da última vez eu jurei para mim mesma que não responderia nunca mais as mensagens dele.

E aqui estava eu novamente. Respondendo as mensagens dele.

"Tu está ainda mais bonita que da última vez", ele começou as investidas.

"Você só está falando isso porque está solteiro de novo", respondi certa de que não cairia no papo dele mais uma vez.

Eu só estou conversando educadamente com ele, não passará disso, eu falava toda hora para mim mesma, tentando me convencer.

"Tu sabe, eu sempre te tive como minha prioridade. Tu que nunca me colocou como sua prioridade", ele tentava justificar as suas muitas namoradas com a minha falta de comprometimento com ele.

"Mesmo assim, eu só quero ter certeza que está tudo bem entre a gente", ele insistiu.

"Eu já te falei que sim, Eduardo. Sem ressentimentos", respondi sem saber exatamente o que eu sentia em relação a ele e a volta repentina dele.

Era como se eu soubesse que ele sempre acabava voltando para mim, independente do tempo que passasse e das coisas que disséssemos um para o outro.

"Vamos nos ver", ele pediu.

"Eu não acho que seja uma boa ideia", eu respondi.

"Por que não?", ele perguntou.

"Porque você não presta", eu respondi.

"Isso não te impediu de ficar comigo antes", ele falou.

Era verdade.

Ele não prestava, eu sabia disso, mas, assim como ele sempre voltava para mim, eu sempre voltava para ele. E para aqueles lábios grossos cheios de mentiras que eu queria ouvir. E para aquelas mãos grandes que já conheciam bem o meu corpo. E para aqueles convidativos e perigosos olhos azuis. Eu sempre voltava para ele e para nosso ciclo vicioso.

Ele estava certo quando disse que não me merecia. Na verdade, ele tentou me avisar o que aconteceria, mas na hora achei que fosse mais um resquício da falta de autoconfiança dele.

Ele me enganou. Não, eu me enganei.

Era hora de pôr isso a limpo.

"Tá bom, eu aceito. Vamos nos ver", cedi.

"Por que mudou de ideia?", ele perguntou surpreso.

"Porque, talvez, se você quebrar meu coração dessa vez, nossa história termina e ninguém se magoa mais", respondi.


Eu sei que ele não presta. Eu sei que ele vai quebrar o meu coração, mas eu não ligo. Ele é o único que tem esse direito sobre mim.


| 26 de abril de 2020 |

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