MORANDO EM PORTO ALEGRE: As coisas sobre os gaúchos e o Rio Grande do Sul que eu não sabia e descobri morando no RS #5
1) Eles odeiam ser chamados de "sulistas".
Se você quer ver um gaúcho bravo chame-o de "sulista", ele vai subir nas tamancas! Antes de saber disso, eu só me referia às pessoas que nascem no sul (Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul) como "sulista", mas aí algumas pessoas me falaram em situações diferentes para não chama-los assim e eu vi que era uma coisa séria.
A explicação é que "sulista" se refere às pessoas que apoiam o movimento separatista "Sul é meus país", e a grande maioria dos gaúchos é contra esse movimento, então para eles é uma ofensa ser comparado ou igualado à essas pessoas (burras, na opinião deles).
2) Eles valorizam MUITO as coisas daqui.
Isso é uma coisa que eu acho bem legal da parte deles. Os gaúchos valorizam DEMAIS as coisas daqui do sul, seja no que diz respeito à comida, à empresas, à marcas, à escritores, à cantores, enfim, tudo relacionado ao Sul.
Um exemplo disso, é que nos mercados é mais fácil encontrar produtos de empresas daqui do Rio Grande do Sul que produtos de marcas famosas que não sejam daqui. Lembro quando fui comprar leite pela 1ª vez, só tinha de marcas daqui do sul, e como eu não conhecia nenhuma, não sabia de qual comprar. O mesmo para requeijão, manteiga, pão, água e muitos outros produtos. Em mercados pequenos, inclusive, é muito comum não venderem produtos de marcas grandes (veja, omo, piracanjuba).
3) Eles ficam chocados quando alguém não conhece as "celebridades" deles.
Justamente por valorizarem muito as coisas daqui, os gaúchos ficam CHOCADOS quando descobrem que o resto do Brasil não faz ideia de quem são as celebridades (escritores, cantores) super famosas aqui. Eles acham que todo mundo conhece, é bem engraçado a reação deles quando alguém diz que não sabe quem é.
4) O Rio Grande do Sul tem medida protecionista para ajudar os produtores do RS.
Ainda nessa vibe de valorizar o que é daqui, para ajudar os produtores daqui do RS, o estado adota uma medida protecionista de mercado: aumenta os impostos e taxas de produtos vindo de fora do RS, porque, quando chegam aqui, os produtos são bem mais caros, o que faz com que os consumidores optem por comprar produtos produzidos aqui no Rio Grande do Sul, por terem o preço mais baixo.
5) A tradição gaúcha está morrendo.
Porto Alegre é uma cidade muito misturada, tem pessoas do país inteiro, e isso faz com que as pessoas daqui não cultivem as tradições gaúchas, porque ou são pessoas de fora ou os pais não passaram essa tradição para eles. Então para ver a verdadeira tradição gaúcha, tem que ir pro interior do estado, onde as tradições são mantidas e passadas de geração pra geração com o maior orgulho.
6) A nova geração gaúcha sente vergonha das tradições gaúchas.
Atrelada ao tópico anterior, outro motivo da tradição gaúcha estar morrendo é o fato da nova geração sentir vergonha das tradições gaúchas. Ainda não entendi direito o porquê dessa vergonha, só sei que eles sentem.
7) Apesar de serem metidos, gaúchos metem muito pau no Rio Grande do Sul.
Basicamente, gaúcho só gosta de se autoafirmar para outras pessoas, mas quando estão entre eles, falam muito pau do RS, porto-alegrense principalmente.
8) Gaúchos são muito exagerados.
Eu já percebi que isso é uma coisa dos gaúchos no geral, eles são MUITO exagerados, eles sempre aumentam MUITO as coisas.
Um exemplo real que eu vivi: eu estava no balcão da LATAM no aeroporto de Porto Alegre, quando um grupo de 4 homens (1 na meia idade e 3 na faixa dos 20 anos) se aproxima. O homem de meia idade começa a falar desesperado para o atendente - que estava ME atendendo - que o avião da LATAM tinha explodido e que ele não podia perder o voo, porque ele TINHA que ir para São Paulo aquela hora senão ele perderia o voo para Dubai.
REPITO, o homem disse que "o avião tinha explodido". Depois de todo o auê, descobrimos que o que de fato tinha acontecido foi que o pneu do avião tinha murchado e por isso o voo atrasaria cerca de 1h.
9) Porto Alegre está muito perigoso e, com medo da violência, as pessoas deixam de sair.
Esse tópico é um tópico que me deixa triste, porque vejo as pessoas deixarem de aproveitar a vida com medo da violência, fora que não concordo com isso. Não acho que devemos deixar de sair por medo da violência, pelo contrário, não podemos dar esse poder aos bandidos. Lógico que não vamos nos expor à situações de perigo, mas também acho que não devemos dar todo esse poder aos bandidos, não podemos deixa-los fazer tudo o que querem, não podemos deixa-los dominar a cidade; mas esse medo é uma coisa muito real e presente aqui em Porto Alegre.
10) Significado da expressão "de mala e cuia".
Eu finalmente entendi o significado da expressão "de mala e cuia". É porque os gaúchos carregam uma cuia de chimarrão em TODO lugar que eles vão, então essa expressão basicamente mostra a realidade dos gaúchos, que não importa para onde eles vão e o que estão carregando, eles sempre carregam a cuia, a fiel companheira deles.
11) Chimarrão é uma coisa polêmica, é 80 ou 80.
Eu achava que todo mundo amava e respirava chimarrão, mas eu descobri que não, ou os gaúchos amam e tomam em todo lugar ou eles odeiam e sentem vergonha alheia das pessoas que carregam cuia de chimarrão em todo lugar. É uma coisa bem extrema, bem 8 ou 80 mesmo.
12) Culinária gaúcha.
Não sei dizer se essas comidas são tradicionalmente daqui do Rio Grande do Sul, mas são comidas que EU conheci aqui e vi que é uma coisa muito tradicional.
Comida: churrasco, sagu, pinhão, galeto, massa no geral.
Bebidas: quentão, chimarrão.
13) Há muitos argentinos e uruguaios no Rio Grande do Sul.
Por causa da proximidade das fronteira, há muitos argentinos e uruguaios no RS. A quantidade de filhos de argentinos ou uruguaios é MUITO grande também.
Jamais imaginei isso, porque 1) gaúcho é metido à europeu, não imaginei que eles aceitariam sul-americanos tão bem 2) Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são estados que fazem fronteira com Bolívia e Paraguai, respectivamente, e essa migração não existe lá. Brasileiro fica no Brasil, boliviano fica na Bolívia, paraguaio fica no Paraguai, é cada um no seu país.
Não entendi direito ainda porque esse fluxo migratório é tão grande, mas estou procurando saber. O RS está quebrado, então atualmente aqui não é um lugar com muitas oportunidades, não sei como era no passado.
14) "Efeito cebola".
É uma expressão que os gaúchos usam muito por causa do clima louco de Porto Alegre. Aqui a amplitude térmica é muito grande (amanhece muito frio, à tarde fica muito quente e à noite esfria de novo), então ao longo do dia vamos tirando as várias camadas de roupa, e isso se assemelha ao descascar de uma cebola, daí a referência.
15) Aqui não tem o 9º ano do ensino fundamental II.
Essa foi uma das coisas que mais me deixou confusa no sistema educacional aqui do Rio Grande do Sul, e me mostrou, mais uma vez, como o RS funciona como um estado independente dentro do Brasil, seguindo as suas próprias leis.
Acontece que, diferente do resto do país, no Rio Grande do Sul, até 3 anos atrás, as escolas não tinham o 9º ano do ensino fundamental II, os alunos simplesmente iam do 8º ano do ensino fundamental II para o 1º ano do ensino médio. Por causa disso, os alunos do RS se formavam no ensino médio com 16 anos! DEZESSEIS ANOS!
Nessa história toda, o que mais me deixa encucada é como o MEC autoriza isso? Os alunos têm 1 ano há menos na escola!!! Como pode isso?! O conteúdo que eles tinham que aprender nesse ano pode ser dado nos outros anos tranquilamente, a grade curricular deles pode ser diferente, porém como ficam as horas mínimas necessárias? Porque, como já falei, é 1 ano de escola há menos que o resto do Brasil! Não consigo entender, mas é como as coisas funcionam.
Porém as coisas mudaram e por causa da grade comum curricular que está entrando em vigor no Brasil, o 9º ano teve que ser implantado nas escolas do RS; e esse ano, excepcionalmente, não haverá turmas de 3º ano do ensino médio no Rio Grande do Sul, porque a última turma a se formar sem o 9º ano se formou no ano passado ⎼ como a turma que veio depois dessa turma de 2017 já pegou o 9º ano, eles ficaram 2 séries atrás do pessoal de 2017, então agora esses alunos estão no 2º ano do ensino médio.
16) Os gaúchos medem as férias com base na estação do ano.
"Férias de verão", "férias de inverno", é assim que eles se referem às férias. Férias de verão é quando eles descem para o litoral, e férias de inverno é quando eles sobem para a serra.
17) Toda a dinâmica da cidade muda com a mudança de estação do ano.
Aqui no Rio Grande do Sul, as estações do ano são bem definidas e toda a dinâmica da cidade muda com a mudança de estação do ano.
No inverno, por exemplo, as pessoas costumam ir para a serra para aproveitar o frio, onde comem muito chocolate e fondue, e tomam bastante vinho e chocolate quente, sentados, é claro, às margens de lareiras. Já no verão, as pessoas vão para o litoral para aproveitar a praia.
Como no verão escurece bem mais tarde que no inverno (no verão, começa a escurecer depois das 20h, no inverno, antes das 18h já está escuro), as pessoas conseguem aproveitar mais o dia. Pensando nisso e no fato do RS, no geral, ser um local muito frio, as aulas nas escolas e faculdades tendem a começar o ano letivo um pouco mais tarde que no resto do Brasil, para que os gaúchos aproveitem intensamente o verão, já que eles sabem que só vai fazer calor de novo no final do ano, quando a primavera acabar e o verão começar novamente.
Não sei dizer se sempre foi assim, mas agora eu sei dizer que é assim que as coisas funcionam.
18) A importância da massa na vida deles.
Eu fico impressionada ao ver a importância que massa tem na vida dos gaúchos.
As pessoas dos outros estados falam muito da importância do churrasco e do chimarrão na vida dos gaúchos, que são coisas super tradicionais aqui e não sei o quê, mas se eu tivesse que elencar 1 comida que considero a cara do Rio Grande do Sul, sem pensar duas vezes, eu diria que é a massa. Na minha percepção, a massa tem uma importância muito maior na vida dos gaúchos que o churrasco ou o chimarrão (o chimarrão é um caso bem específico, como já falei, porque ou as pessoas amam e tomam em todo lugar, ou as pessoas odeiam, nunca tomam e julgam quem toma). Massa tem em todo lugar e em uma variedade que eu nunca vi em nenhum outro lugar, nem mesmo na Itália (pelo menos, não que eu me lembre). Massa, sim, é a cara dos gaúchos.
19) Outra coisa sobre massa.
Nunca, jamais, em hipótese ALGUMA, atreva-se a dizer "macarrão" em vez de "massa", a gauchada sobe nas tamancas! Tudo isso porque "macarrão" é um tipo de massa e eles NÃO admitem que alguém chame qualquer tipo de massa, que não seja especificamente macarrão, de macarrão. Eles têm vontade de dar um tiro em quem fala tal "barbaridade", na opinião deles.
20) Ainda sobre massa.
Os gaúchos quase enfartam quando veem alguém cortando a massa em vez de enrolar no garfo. Isso é uma coisa muito séria para eles, que realmente os incomoda.
Para não perder a amizade, acabamos nos segurando para irmos contra o instinto de cortar a massa e criamos o hábito de enrola-la no garfo.
21) Gaúcho tem muito preconceito com nordestino.
Já tinham me falado que sulista, sobretudo gaúcho, tem muito preconceito com nordestino, e vivendo aqui no RS confirmei a veracidade dessa informação. SIM, os gaúchos têm MUITO preconceito com nordestino; mas não é só com nordestino não, eles têm muito preconceito com todos que eles julgam inferior à eles.
Jumentamente (porque só sendo jumento para pensar isso), os gaúchos se acham superiores por serem descendentes de europeus - na real, eles se acham os próprios europeus -, e nordestinos são o maior alvo de preconceito da parte deles.
Outro povo que tem sofrido bastante preconceito pelos branquinhos de shopping, aqui no sul, são os haitianos. É triste ver como eles são tratados aqui, completamente diferente da forma que foram recebidos no Mato Grosso, onde até campanha de inclusão foi feita "haitianos, os novos cuiabanos".
Lógico, estou generalizando, nem todo mundo é preconceituoso, mas vejo que os não preconceituosos não fazem nada para barrar esse preconceito ou para tentar mudar a mentalidade dessas pessoas, então, por serem omissos, os incluo nessa categoria. De nada adianta não ser preconceituoso, mas não fazer nada quando alguma atitude preconceituosa acontece.
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